Nestes meus 27 anos de vida eu já passei
por diversas estações algumas amargas, outras doces, vivi tempos de guerra, de
paz e de desertos; nesta pequena jornada diversos sentimentos já brotaram no
meu coração, milhares de pensamentos, argumentos, dúvidas... Mas posso dizer
sem dúvidas que uma das coisas que mais mexeu e mexe comigo é o enigma da morte.
Posso afirmar que de todas as sensações
que já experimentei o luto é uma das piores, se não for a pior, afinal a morte
nunca anda só, ela sempre vem acompanhada de dor, questionamentos, saudades e
uma pitada de tragédia, afinal ninguém está preparado para morrer ou enterrar
alguém.
Me assusta o quanto a morte é misteriosa e
como nós humanos não possuímos nenhum controle sobre nossas próprias vidas,
hoje estamos aqui e amanhã podemos ser pó. O fato é que diante da morte fica evidente
nossa fraqueza e impotência diante dos mistérios insondáveis desta vida, diante
da morte nossas certezas perdem a direção, nossos sonhos se paralisam e nosso
coração sangra.
A morte chega de mansinho, calada exigindo
tudo de nós, meros mortais...
Ela vem nos imobilizando, levando o
suspiro de vida dos mortos e arrancando um pedaço da vida dos vivos...
A morte exige atenção, exige luto e acima
de tudo exige tempo, tempo para ser processada, engolida, digerida; creio que os
dias após a morte são piores do que o dia da morte propriamente dita, afinal o pós-morte
torna a ausência quase que palpável e transforma o choque inicial em ferida
aberta...
Quão pequenos e imaturos somos diante
deste tão grande mistério... Afinal nossa mente não consegue aceitar que quem
se foi está na eternidade, reinando junto ao Pai, lugar onde não há dor, choro,
dívidas, preocupações... Aquele que se foi está reinando com o Senhor, em outra
dimensão e encontra-se no melhor lugar que alguém pode estar, nos braços do Pai!
Mas diante da nossa pequenez e dor prosseguimos com pena, pois quem se foi
ainda tinha tanto pra viver, choramos pelos sonhos não realizados, pela falta,
por não podermos mais abraçar e beijar... Mas como podemos comparar a vida
nesta terra com a vida do céu? Como podemos comparar as conquistas desta terra
com as conquista do céu?
A verdade é que por mais que tentemos ser
"espirituais" nos faltam forças para administrar a saudade e a dor...
Só quem perdeu sabe o buraco que fica! E aí entra a necessidade de se viver o
luto, de chorar todas as lágrimas... Isso é importante pra mente e pro coração,
é preciso lamentar a ausência antes de acostumar com ela...
Mas como prosseguir diante do vazio, dos
planos não concluídos? Como vislumbrar cores num céu fechado? Como enxergar o
sol no meio da tempestade? Somente Deus com sua graça e misericórdia é capaz de
nos reerguer diante da dor e da perda... Afinal o que nos resta após a morte?
A grande verdade é que nos resta uma vida
inteira pela frente... Uma vida cheia de saudades, que precisará ser
reconstruída dia após dia, nos resta a lembrança linda de quem se foi, nos
resta o eterno agradecimento a Deus por ter nos dado o presente de ter
convivido com aquele que já se foi! Mas o fato é que ainda nos resta uma vida
pra ser vivida!
Talvez não sejamos feitos pra entender a
morte, pelo menos nesta terra... Talvez precisamos encarar a morte como o
intervalo de um jogo, e crer que já já encontraremos nosso ente querido ali no
2º tempo da partida, não, isso não é fácil... Ninguém disse que seria, mas
talvez a morte seja uma imposição da vida.
A verdade é que a morte carece de uma
olhar mais profundo que o convencional... Ela vem carregada de conceitos,
formas, mensagens que nos mostram que nossa vida precisa ser mais profunda,
mais carregada de significados. Diante da morte fica claro que não nos convém
viver de forma rasa, simples, sem propósito... A morte é um
convite ao aprofundamento, aprofundar nos relacionamentos humanos, na relação
com Deus!
A morte é um aviso da vida nos pedindo pra
sair da margem, sair do contexto raso que muitas vezes nos acostumamos,é tempo
de profundidade, tempo de ir para as águas mais profundas... A morte é a Vida
gritando que não podemos nos acostumar ás estruturas da superfície!
Não há outra vida para vivermos, ou somos
profundos aqui, amamos aqui, honramos aqui, conquistamos aqui, ou nunca faremos...
Diante da dor da morte damos valor ás
miudezas que antes passavam desapercebidas: o abraço, o beijo, o sorriso, a
presença rotineira, as conversas bobas, as manias... Diante da morte tudo se
torna pequeno, sem importância, pois a morte nos força a ampliar nossa visão...
É impressionante como existem detalhes e delícias que percebemos diante do
gélido muro da morte!
A grande verdade é que ninguém saí ileso diante
da dor da morte! Todos sofrem, todos aprendem, todos refletem... Talvez seja
esse o grande papel da morte, nos ensinar a dar valor ao que verdadeiramente é
importante.
Se a morte é uma exigência da vida cabe a
nós aprendermos as lições, juntar os cacos que sobraram e reconstruir, se
reinventar, nos lançarmos numa vida mais enraizada na Verdade, carregada de
profundidade e de detalhes.
Que a morte nos faça mais forte, nos
impulsione a crescer, nos faça mais humanos, mais sensíveis e mais sábios...
Que a vida de quem foi seja exemplo, seja saudade, seja certeza de que depois
dessa vida ainda há muito mais...
Texto em homenagem ao meu primo querido Mellky Jhonny
"Leva meu coração que eu fico com o seu. Eternamente. Até o dia em que a vida nos reabraçar. Fique com Deus, meu primo. Dê um beijo N'Ele (Deus) por mim"
(Pafraseando Pe Fábio de Melo - Livro: É Sagrado Viver)