quarta-feira, 14 de março de 2012

A minha lista


Todos os anos é assim, quando meu aniversário vai chegando um sentimento nostálgico de reflexão me invade, é como se o piloto automático fosse ligado e de maneira mecânica eu passasse a analisar os últimos 12 meses e nesta semana quando percebi estava de lápis e papel na mão analisando minha vida e fazendo uma lista daquilo que não alcancei, mas que um dia desejei.

Em 26 anos muitas pessoas passaram pela minha vida, vivi situações inusitadas, engraçadas e algumas trágicas, alguns sonhos realizei, já outros estão bem longe de se realizarem, mas o que mais me chama a atenção é como eu mudei...

É engraçado como o tempo tem este poder, o poder de nos mudar e de nos provar que quase nada do que vivemos e sentimos é eterno.

Quantos sonhos eu tinha, sonhos grandes... Sonhava em impactar vários países, ser reconhecida pelo mundo, viajar sem data pra voltar, me aventurar em cada pedacinho do globo, mudar as nações... Hoje luto para fazer do meu mundinho um lugar mais tranqüilo, me esforço para que ao meu redor as coisas sejam mais fáceis e vivo sonhando com dias melhores...

Quantos amigos eu tive, amigos que jurei que fossem pra vida inteira, amigos de dormir na sua casa, comer no seu prato, compartilhar a pasta de dentes, amigos de contar até os segredos mais bobos tendo a certeza que eles nunca iam rir de mim, amigos que topavam qualquer parada, que faziam surpresas e escreviam cartas, que davam abraços sinceros e conselhos sábios... Mas eles se foram! E se foram por diversos motivos uns porque se mudaram de estado, outros porque pisaram feio na bola, alguns porque se casaram, alguns pouco a pouco foram sumindo e quando percebi já havia perdido contato, outros eu julguei de maneira ferrenha e os perdi, mas o fato é que todos se foram... E como sinto falta de cada um! Hoje me vejo cercada de gente, mas não consigo identificar os “amigos verdadeiros”, ou pelo menos não me sinto a vontade pra compartilhar de maneira plena o que penso e sinto. Percebo que hoje sou uma pessoa mais desconfiada, falo pouco de mim e me esforço pra continuar trilhando meu caminho sem maiores decepções e perdas, o fato é que hoje me sinto mais só.

Quantas situações e pessoas eu censurei... Tantas e tantas... Reprovei algumas verbalmente, a grande maioria apenas na mente, e em algumas situações fui levada pela imaturidade a simplesmente julgar sem avaliar tudo o que estava envolvido... E como me arrependo! Olhando pra trás percebo que faria muita coisa diferente, talvez não seria tão radical como fui, talvez ao invés de um duro discurso de adeus eu daria um abraço fraterno de adeus (porque em algumas ocasiões o adeus é inevitável mas ele  pode ser mais singelo e suave), talvez criaria ocasiões pra simplesmente entender o outro melhor, talvez embarcaria na loucura do louco que censurei... Hoje me vejo mais tolerável e flexível, deixei um pouco de lado aquele radicalismo desenfreado, mas ainda há uma briga interna para que eu não passe dos limites e fale tudo que penso, o fato é que sinto que mais perdi do que ganhei no meio de tantos apontamentos e críticas que fiz...

Ah quanta inocência... Que saudade da minha inocência! Antigamente eu confiava 100% nas pessoas, acreditava no amor que nada exige em troca, colocava a minha mão no fogo por alguns e jurava que todos viviam de acordo com seu discurso... Que fantasia, que inocência... Apesar de todas as tapas na cara que a vida me deu por acreditar nessa utopia eu me lembro que essa foi uma fase de alegria e pureza sem fim. Hoje eu desconfio da sombra que me segue, do vendedor que tenta me persuadir a comprar seu produto, do discurso acalorado em cima do púlpito e do gesto de gentileza que nada pede em troca...
Hoje minha vida está tão diferente do que eu pensei... Tantas coisas simplesmente não se encaixaram!
Não, eu não vi só coisas negativas na minha reflexão, e os pontos positivos virão no próximo post, mas observei o óbvio, como o tempo nos muda... Ele cura alguns machucados, estagna algumas situações, nos torna mais habilidosos, traz maturidade, nos faz menos radicais e mais reflexivos, enriquece nossos talentos, nos ensina que o amor não é fala é atitude e nos prova que quase nada é eterno. O tempo é assim, nos aperfeiçoa, mas também nos endurece, nos torna mais sábios, mas também rouba de nós o gosto pelas brincadeiras de criança...

E foi assim pensando no tempo que se passou que me percebi refletindo sobre minha vida, questionando o que se foi e quem se foi, me perguntando acerca dos defeitos que abandonei e dos que adquiri, analisando a transformação vivida nestes 26 anos, e olha que ainda há muita vida pela frente...

A conclusão que cheguei? Percebo que o que tenho feito da minha vida é muito menos do que posso fazer! E neste novo que se inicia pretendo continuar trabalhando para aparar minhas arestas, para me tornar um ser humano mais sábio, para ser uma criança que brinca de ser adulta sem medo de ser feliz, para zelar mais por aquilo que é eterno, para me lançar mais naquilo que desconheço!

Olhar pra trás mostra quão pouco progredi, quão pouco eu andei, evidencia quantos votos foram abandonados e quantos projetos simplesmente não decolaram... Olhar pra trás traz este sentimento de que mudar continua sendo o alvo, se reinventar continua sendo preciso e crer continua sendo a única saída.

É preciso prosseguir mesmo diante de uma lista de derrotas, é preciso caminhar ainda que se tenha a impressão de que não se está saindo do lugar, é preciso acreditar mesmo quando a frustração parece ser rotina, é preciso crer em dias melhores mesmo diante dos milhares de motivos para desistir, é preciso permanecer no caminho mesmo diante dos tentadores, porém enganosos atalhos...

Fazer a minha lista foi assim um misto de alegria com tristeza, um alerta de que muitas coisas se perderam no caminho mas que ainda há tempo de reconquistar algumas, um pequeno susto pois em muitos momentos não me reconheci e tive que vasculhar um mar de emoções pra entender tudo o que se passou...
E depois de tudo, com minha lista nas mãos me tranquei no quarto e escutei uma das minhas músicas prediletas “A Lista” do grande poeta Oswaldo Montenegro, música simples, porém profunda, letra inteligente de frases penetrantes... Depois de tantas reflexões fiz minhas orações e clamei por sabedoria e fé, crendo em um novo ano de transformações reais e doces vitórias.
Assim como fiz nesta semana eu te convido para neste momento escutar este poema em forma de canção e refletir sobre a sua vida fazendo a sua lista...
E aí? Hoje sua vida está do jeito que achou que seria?


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