Todos os anos é assim, quando meu
aniversário vai chegando um sentimento nostálgico de reflexão me invade, é como se o
piloto automático fosse ligado e de maneira mecânica eu passasse a analisar os
últimos 12 meses e nesta semana quando percebi estava de lápis e papel na mão analisando
minha vida e fazendo uma lista daquilo que não alcancei, mas que um dia desejei.
Em 26 anos muitas pessoas
passaram pela minha vida, vivi situações inusitadas, engraçadas e algumas
trágicas, alguns sonhos realizei, já outros estão bem longe de se realizarem, mas
o que mais me chama a atenção é como eu mudei...
É engraçado como o tempo tem este
poder, o poder de nos mudar e de nos provar que quase nada do que vivemos e
sentimos é eterno.
Quantos sonhos eu tinha, sonhos
grandes... Sonhava em impactar vários países, ser reconhecida pelo mundo,
viajar sem data pra voltar, me aventurar em cada pedacinho do globo, mudar as
nações... Hoje luto para fazer do meu mundinho um lugar mais tranqüilo, me
esforço para que ao meu redor as coisas sejam mais fáceis e vivo sonhando com
dias melhores...
Quantos amigos eu tive, amigos
que jurei que fossem pra vida inteira, amigos de dormir na sua casa, comer no
seu prato, compartilhar a pasta de dentes, amigos de contar até os segredos
mais bobos tendo a certeza que eles nunca iam rir de mim, amigos que topavam
qualquer parada, que faziam surpresas e escreviam cartas, que davam abraços
sinceros e conselhos sábios... Mas eles se foram! E se foram por diversos
motivos uns porque se mudaram de estado, outros porque pisaram feio na bola,
alguns porque se casaram, alguns pouco a pouco foram sumindo e quando percebi
já havia perdido contato, outros eu julguei de maneira ferrenha e os perdi, mas
o fato é que todos se foram... E como sinto falta de cada um! Hoje me vejo
cercada de gente, mas não consigo identificar os “amigos verdadeiros”, ou pelo
menos não me sinto a vontade pra compartilhar de maneira plena o que penso e
sinto. Percebo que hoje sou uma pessoa mais desconfiada, falo pouco de mim e me
esforço pra continuar trilhando meu caminho sem maiores decepções e perdas, o
fato é que hoje me sinto mais só.
Quantas situações e pessoas eu censurei...
Tantas e tantas... Reprovei algumas verbalmente, a grande maioria apenas na
mente, e em algumas situações fui levada pela imaturidade a simplesmente julgar
sem avaliar tudo o que estava envolvido... E como me arrependo! Olhando pra
trás percebo que faria muita coisa diferente, talvez não seria tão radical como
fui, talvez ao invés de um duro discurso de adeus eu daria um abraço fraterno
de adeus (porque em algumas ocasiões o adeus é inevitável mas ele pode ser mais singelo e suave), talvez
criaria ocasiões pra simplesmente entender o outro melhor, talvez embarcaria na
loucura do louco que censurei... Hoje me vejo mais tolerável e flexível, deixei
um pouco de lado aquele radicalismo desenfreado, mas ainda há uma briga interna
para que eu não passe dos limites e fale tudo que penso, o fato é que sinto que
mais perdi do que ganhei no meio de tantos apontamentos e críticas que fiz...
Ah quanta inocência... Que
saudade da minha inocência! Antigamente eu confiava 100% nas pessoas,
acreditava no amor que nada exige em troca, colocava a minha mão no fogo por
alguns e jurava que todos viviam de acordo com seu discurso... Que fantasia,
que inocência... Apesar de todas as tapas na cara que a vida me deu por
acreditar nessa utopia eu me lembro que essa foi uma fase de alegria e pureza
sem fim. Hoje eu desconfio da sombra que me segue, do vendedor que tenta me
persuadir a comprar seu produto, do discurso acalorado em cima do púlpito e do
gesto de gentileza que nada pede em troca...
Hoje minha vida está tão diferente do que eu pensei... Tantas coisas simplesmente não se encaixaram!
Não, eu não vi só coisas
negativas na minha reflexão, e os pontos positivos virão no próximo post, mas
observei o óbvio, como o tempo nos muda... Ele cura alguns machucados, estagna
algumas situações, nos torna mais habilidosos, traz maturidade, nos faz menos
radicais e mais reflexivos, enriquece nossos talentos, nos ensina que o amor
não é fala é atitude e nos prova que quase nada é eterno. O tempo é assim, nos
aperfeiçoa, mas também nos endurece, nos torna mais sábios, mas também rouba de
nós o gosto pelas brincadeiras de criança...
E foi assim pensando no tempo que
se passou que me percebi refletindo sobre minha vida, questionando o que se foi
e quem se foi, me perguntando acerca dos defeitos que abandonei e dos que
adquiri, analisando a transformação vivida nestes 26 anos, e olha que ainda há
muita vida pela frente...
A conclusão que cheguei? Percebo
que o que tenho feito da minha vida é muito menos do que posso fazer! E neste
novo que se inicia pretendo continuar trabalhando para aparar minhas arestas,
para me tornar um ser humano mais sábio, para ser uma criança que brinca de ser
adulta sem medo de ser feliz, para zelar mais por aquilo que é eterno, para me
lançar mais naquilo que desconheço!
Olhar pra trás mostra quão pouco
progredi, quão pouco eu andei, evidencia quantos votos foram abandonados e quantos
projetos simplesmente não decolaram... Olhar pra trás traz este sentimento de
que mudar continua sendo o alvo, se reinventar continua sendo preciso e crer
continua sendo a única saída.
É preciso prosseguir mesmo diante
de uma lista de derrotas, é preciso caminhar ainda que se tenha a impressão de que
não se está saindo do lugar, é preciso acreditar mesmo quando a frustração parece
ser rotina, é preciso crer em dias melhores mesmo diante dos milhares de motivos
para desistir, é preciso permanecer no caminho mesmo diante dos tentadores,
porém enganosos atalhos...
Fazer a minha lista foi assim um
misto de alegria com tristeza, um alerta de que muitas
coisas se perderam no caminho mas que ainda há tempo de reconquistar algumas, um pequeno susto pois em muitos momentos não me reconheci e tive que vasculhar um mar de emoções pra entender tudo o que se passou...
E depois de tudo, com minha lista nas mãos me tranquei no quarto e escutei uma das minhas
músicas prediletas “A Lista” do grande poeta Oswaldo Montenegro, música
simples, porém profunda, letra inteligente de frases penetrantes... Depois de tantas reflexões fiz minhas orações e clamei por sabedoria e fé, crendo em um novo ano de transformações reais e doces vitórias.
Assim como fiz nesta semana eu te
convido para neste momento escutar este poema em forma de canção e refletir sobre a sua vida fazendo a sua lista...
E aí? Hoje sua vida está do jeito que achou que seria?
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