Tem
um ditado que diz que a voz do povo é a voz de Deus. Que bobagem! Quando se lê a
Bíblia percebe-se que raramente Deus pensava como a multidão, na verdade os
pensamentos D’Ele eram e continuam bem mais altos que os nossos.
Ao
analisarmos as Escrituras podemos perceber que em determinados momentos Jesus
simplesmente se afastava da multidão... Ele sabia a importância da mesma,
afinal Sua missão era pregar as boas novas e se sacrificar pelo povo, mas acima
disso Ele compreendia que em alguns momentos estar com a multidão não valia a
pena. Uma
das provas disso é que Jesus falava com o povo por meio de parábolas, os
discípulos quando questionaram o Mestre o porque disso escutaram: “Porque a vós
outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas aqueles não lhes é
concedido isso.” Naquele momento Cristo deixava bem claro que as multidões não
possuíam estrutura para conhecer profundamente os desígnios divinos, existiam
algumas situações que não cabiam ao povo saber pois se soubessem não saberiam interpretar;
mas na frente Jesus diz: “... porque, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem,
nem entendem.” Jesus não estava menosprezando ninguém, Ele só conhecia o limite
do povo, como ninguém Ele compreendia até onde podia ir, Cristo sabia que nem
todas as pessoas estavam prontas para escutar aquilo que Ele tinha pra dizer de
forma nua e crua.
Daí surge a primeira lição: Nem sempre as pessoas possuem estrutura para ouvir o que você tem a dizer.
A grande verdade é que se formos 100% sinceros naquilo que pensamos vamos acabar escandalizando muita gente e Jesus deixou claro que nem todos estavam prontos para compreender nossos posicionamentos e pensamentos, existem situações que a massa não pode e nem deve saber, primeiro porque não compreenderiam e segundo porque ficariam fomentando o assunto de maneira errônea... Eu aprendi isso na pele, quantas vezes contei segredos para quem não devia, quantas vezes me expus pra multidão e fui mal interpretada, perdi a conta das vezes que falei A e a pessoa simplesmente entendeu Z... Com algumas pessoas (ou a grande maioria delas) o melhor é se calar ou falar por parábolas, dar o recado sem chocar expor ou escandalizar, porque não vale a pena ter dor de cabeça com quem ouve, mas não entende, é como dar murro em ponta de faca você só se fere e não alcança seu objetivo. E não adianta, ninguém pode dar aquilo que não tem, não podemos exigir convicção do neófito, lealdade do infiel, sabedoria do imaturo, amor de quem nunca foi amado...
“
E, despedida a multidão, subiu ao monte para orar, à parte. E, chegada já a
tarde, estava ali só. – Mateus 14: 23
Num
determinado momento depois de dar o seu sermão Jesus se despedia das multidões
e com seus discípulos mais chegados se distanciava rumo ao monte, lá no monte
Ele se afastava de seus discípulos e ia orar sozinho, aquele era a hora só
D’Ele com Deus, aquele era o momento da transparência, da busca pelo equilíbrio
espiritual, de realinhar sua fé e expor para o Pai seus anseios e sentimentos
mais profundos.
Daí surge a segunda
lição: Em alguns momentos é preciso ficar só.
Tem
horas que é preciso se distanciar de todos para recarregar as energias, a
multidão é barulhenta, questionadora, requer atenção e acaba sugando nossas
energias. Jesus entendia que deveria reservar momentos para descansar, meditar,
orar e renovar sua fé, aquele era o momento de se reencontrar com Sua origem,
valores e fortalecer a essência de sua missão. Assim também acontece conosco, há
momentos em que estar cercado de gente enfada, cansa e é preciso cuidar de si,
fortalecer seus valores e fé se reencontrar no Caminho.
O que eu acho mais engraçado é que Jesus primeiro se distanciava da multidão e depois dos discípulos, essa ordem mostra os relacionamento que Ele possuía, mas o fato é que não interessava o nível de relacionamento, em determinado momento Jesus se afastava de todos para se encontrar com UM, para ficar a sós em meditação e reflexão. Não que Ele gostasse de solidão, mas porque entedia que períodos de reclusão eram necessários para continuar a caminhada...
E
eu pergunto: Quem disse que ficar só é sinônimo de solidão? Na minha opinião eu
sou a minha melhor companhia (depois de Deus, claro) quando estou só sonho,
imagino, danço, canto, reconheço meus erros, falo com o Criador, reaprendo,
fico em silêncio, choro, questiono, dou gargalhadas, recarrego as energias,
disserto... Tenho buscado aproveitar ao máximo os momentos que estou só, me
conhecer e fortalecer tem sido minha missão nos últimos dias e acredite está
sendo ótimo, aprendi que só posso ajudar os outros quando eu também cuidar de
mim, portanto, estou buscado dar um passo de cada vez e sei que devagarzinho
vou chegar lá. Tem horas que é preciso retirar o pé do acelerador e recomeçar.
Não
insista, não vale a pena... Há momentos que na vida parar é pré–requisito para
continuar.
“O governador, pois, perguntou a multidão:
Qual dos dois quereis que eu vos solte? E disseram: Barrabás.” Mateus 27: 21
A
mesma multidão que seguiu Jesus ouviu seus discursos e viu grandes milagres foi
a mesma que optou por Barrabás... Sinceramente não dá pra entender como
escolheram um perturbador da ordem pública e assassino (Lucas 23:19) ao invés
de Jesus, que foi morto sem acusação alguma... A grande realidade é que a
multidão muda facilmente de opinião, hoje ela está com você, te apoia, te ouve,
te respeita; amanhã simplesmente eles mudam de opinião e o tratamento dado é
outro.
A
multidão é volátil e isso dói, machuca perceber que quem você acreditava estar
do seu lado está longe ou não optou por você, é horrível perceber que sua
dedicação e amor não foram reconhecidos, e quantas vezes eu passei por isso,
quantas vezes me decepcionei com a escolha de algumas pessoas, quantas vezes
precisei de ajuda e me vi só, mas a multidão é assim, ela usa seu poder de
escolha sempre e troca de opinião assim como troca de roupa.
Surge daí mais uma
lição: Não se iluda... A multidão muda de ideia facilmente.
Eu
entendo que Jesus deu mais importância ao invisível, se agarrou naquilo que o
olho humano não enxergava e continuou sua jornada mesmo sendo abandonado por
aqueles que O seguiam, e foi só que Ele enfrentou o calvário e provou o fel amargo
do cálice da morte, mas nem por isso Ele perdeu a batalha ou deixou de amar a
multidão... Porém Ele percebeu que viver apenas pra agradar a multidão não era
o foco e não valia a pena.
Hoje estou assim: Me calei pra não escandalizar, me afastei da multidão pra me reencontrar no chamado em meditação e devoção e estou me acostumando com o fato de que as pessoas tem o direito de mudar de ideia radicalmente... Ainda amo as pessoas, mas acredito que o melhor caminho no momento é este, nem tão perto, nem tão distante da multidão... Estou aprendendo a caminhar sem depender quase que exclusivamente do povo, que se considera a voz de Deus mas na verdade não passa de pó, assim como eu.
É uma pena, mas em alguns momentos a multidão não vale a pena.
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