Hoje conversando com um grupo de colegas compartilhávamos sobre nossas vidas em especial a época da infância, com os olhos brilhando muitos deles dissertavam sobre as melhores brincadeiras de rua, os medos e as traquinagens típicas das crianças. Como é bom poder lembrar do que se passou, dá uma sensação gostosa de saudade né? Mentalmente retrocedemos no tempo e nosso coração suspira por aqueles dias onde tudo era fantasia e alegria.
Alguns minutos depois da animada conversa sobre o passado me peguei pensando no futuro e confesso que pela primeira vez tive a deliciosa experiência de sentir muito mais saudades do meu futuro do que do meu passado...
Diferente de muitas pessoas eu tenho uma ótima relação com meu passado, tive uma infância maravilhosa, e minha juventude está sendo bem tranquila, tive sim meus momentos de arrependimento, muitas vezes falei o que não devia, tive amigos que não deveriam ter passado pela minha vida (pena que cheguei a esta conclusão tarde demais), tomei decisões precipitadas, desisti quando deveria ter insistido um pouco mais e acreditado menos em alguns. Mas tenho aprendido algo muito sério no longo da caminhada, é que o meu passado me pertence, mas não me domina; o passado já foi escrito e não vai mudar, portanto decidi que quando questionarem o meu passado eu serei curta e clara: "Eu não vivo mais lá" e continuarei me aperfeiçoando hoje e construindo meu futuro.
Mas voltando ao ponto, de repente me vi sentada na cadeira morrendo de saudades do meu futuro, saudades daquilo que não vivi.
Fechei os meus olhos e comecei a pensar em quantas pessoas ainda vou conhecer gente engraçada, mal humorada, decidida, desorganizada, metódica, inteligente, determinada, doida, humilde, amorosa, prepotente, contadores de história (quantos Forrest Gump passarão por mim? Esta é a classe de pessoas que mais gosto rsrs)... Imaginei quantas figuras ainda passarão ao meu lado e quantas marcarão a minha história.
Senti imensas saudades dos caminhos que ainda não explorei, me peguei imaginando os lugares que ainda quero conhecer: Havaí, Israel, Grécia, EUA, Canadá, Malásia, Índia, Rússia ... E sabores? Ah quantos sabores eu desconheço... Comida irlandesa, finlandesa, egípcia os pratos típicos da Groenlândia, de Madagascar e Alasca mesmo sem conhecer nenhum destes sabores minha boca se enche de desejo...
Senti saudades do amor que não tive, dos beijos que não dei, do casamento que ainda virá, senti saudades das surpresas que farei para o meu amado e dos filminhos debaixo do edredom, me vi sentada no chão brincando com meus filhos, fazendo uma lasanha pra almoçar num domingo, me vi desesperada na arquibancada gritando no jogo de volêi da minha filha... (Sim, vou ser mãe coruja!), até me vi trocando fraldas... rsrs
Quantas saudades dos livros que ainda vou ler, ah e são tantos, fechei os meus olhos e imaginei minha linda biblioteca com livros de diversos autores perfeitamente encaixados nas prateleiras de madeira... Me vi sentada numa linda poltrona lendo clássicos da literatura brasileira e descobrindo as delicias da literatura contemporânea.
E Deus? Nossa quantas saudades senti do relacionamento maravilhoso que teremos, me vi com o coração cheio de amor pela Divindade eterna e suprema, senti saudades da relação pessoal e inquebrável que teremos, saudades da paz em servir a Ele sem peso ou dúvidas. Tive saudades do céu, de sentar no colo do Pai e simplesmente descansar...
E as reuniões familiares? Me deliciei vendo as confraternizações que ainda acontecerão, os almoços e jantares, os natais e viradas de ano animadas como só nós sabemos fazer, me vi rindo com minhas primas, abraçando meus tios e brincando com as crianças.
Senti saudades da minha profissão, dos cargos que ainda vou ocupar, das equipes que ainda vou gerir, das empresas que ajudarei a transformar... Saudades dos cursos de especialização que ainda vou fazer, das aulas e palestras que darei, do conhecimento que adquirirei.
E foi assim, sentada numa cadeira que em poucos minutos viajei o mundo e me deliciei naquilo que somente o presente é capaz de construir e só o futuro pode trazer. Fechei os meus olhos e percebi há muito mais para ser vivido, tocado, visto e é para lá que eu quero ir!
Mas como pode alguém ter saudade daquilo que ainda não existiu? Não sei te explicar, mas uma coisa é fato, hoje sinto mais falta daquilo que ainda não aconteceu, das páginas que ainda não foram escritas, do por vir revelado em pensamento e sonhado com o coração.
Estou consciente do meu passado, vivendo o meu presente mas já morrendo de saudades do meu futuro.
Decidi arriscar mais, sair da caixinha, me desprender do que estava me magoando e viver o que me é proposto ser vivido. Não anulei o passado, não estou me esquecendo do presente mas a frase que mais pulsa em meu peito hoje é: Chega logo futuro.
A DOR DO NÃO VIVIDO
(Carlos Drummond de Andrade)
...
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e de que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.
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E você tem saudades do seu futuro?
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